Peripluz 4 de Fevereiro de 2007, pelas 17.30 h | ||
À conversa com
Pedro
Magalhães
Pedro Magalhães, autor de “B’luz” e de “Peripluz”, obra poética recentemente editada, esteve na “Artebúrguer”, num encontro que assinalou o início da comemoração do 3º Aniversário deste espaço cultural da Vila da Luz. Falando da sua poesia e das recordações que o inspiraram, Pedro Magalhães explicou cada um dos poemas e as fotografias e outras lembranças de viagem que constituem a actual exposição. Também designada “Peripluz”, esta exposição então inaugurada, prolonga-se até 3 de Março e poderá ser visitada de 2ª a sábado, das 10.00 às 15.00 e das 19.00 às 23.00 horas.
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mmm
Pedro Magalhães
Acabada a guerra, em tempos de paz, nasce em Lisboa, a 10 de Junho de 1946,
dia de Camões e de Santa Margarida, Rainha da Escócia.
Maior e devidamente vacinado, corre uma boa parte do Mundo Português, do
que dá conta nestes “Peripluz”.
Mora na Luz, com o mar a dois passos.
Tem cinco gatos, tantos quantos os poetas deste livro*.
CODA
Esta Rocha Negra é um gigante pacífico que nunca
atormentou mareante. É mais farol que mostrengo, assinala a Luz.
Assim o fez ao jovem indígena já mestiço –
meio-celta, meio-fenício – que saía ao mar num bote a remos a pescar os
rascassos, os congros, os pregados que a matrona Flávia, romana de Roma,
poderosa e perfumada, com casa fronteira ao Balneário, exigia para o dia-a-dia.
E, também, ao atalaia que, lá no alto, descalço e de barrete vermelho, ora
anunciava a passagem da baleia ora o aproximar da vela moura, soprando o búzio.
Ao gajeiro da Nau Catrineta que com estouro rebentou e
tornou mais negra a Rocha.
Ao meu tetra-tetra avó, Fernão de prenome, que ao largo
passou, rumo ao sul, e que à roda do leme com a barba ao vento por um estreito
de escolhos, focas e pinguins, atingiu o Pacífico, imenso Oceano de paraísos,
guerras e surfistas.
Ao capitão Drake e sua tripulação de piratões de tranças
ruivas e garrafas de rum que do Beliche à barra de Alvor saqueavam fortalezas e
povoados e que, nos intervalos, pensavam para com os seus arcabuzes: “Que bela
Costa para se fazer turismo”.
E a mim que peregrinei por esse mundo e na Luz assentei e
a estes caranguejos, também eles negros, que ao Sol do meio-dia se alimentam
nos seixos verdes de limos, usando as pinças como dois talheres, com competência
e compenetração.
À nossa frente o Atlântico é um deserto azul.
(Coda: secção conclusiva duma estrutura musical já de si completa)
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*“5 Poetas de Lagos”, Edição do Grupo dos Amugos de Lagos, 2006
Peripluz