Projecto de A. M. Cristiano Cerol     

  04.Maio.2006, pelas 18.00 horas

Colaboração de Nídio Duarte e José Carlos Vasques     

 

Praia do Porto de Mós

foi tema de Encontro


Na 5ª feira, dia 4 de Maio, pelas 18 horas, na Biblioteca Municipal Dr. Júlio Dantas, decorreu uma mesa redonda sobre a Praia do Porto de Mós, de Lagos, recordação do passado e perspectiva futura.
 A iniciativa foi do Grupo dos Amigos de Lagos, que este ano dedicou os seus Encontros de 5ª Feira ao tema “Lagos, Pensamento e Acção”.
Estes encontros são um espaço mensal de reflexão e debate sobre assuntos de actualidade regional e local e têm o apoio da Câmara Municipal.


 

 


 

 

 

 

JOSÉ CARLOS VASQUES

acerca de

A PRAIA DO PORTO DE MÓS



Por vezes chegam ao nosso conhecimento casos tão insólitos que produzem grande turbulência na nossa mente. Um desses casos refere-se à destruição das casinhas e do alvo da carreira de tiro que existiam na praia do Porto de Mós. Foram destruídas.
Coisas há que, por banais que pareçam, hão-de ser-nos sempre queridas, quer por fazerem parte do nosso quotidiano quer por emoldurarem momentos especiais de ócio que a elas nos ligam. As mais importantes integram o património edificado cuja memória histórica e colectiva urge preservar. Os mandatários dessa e de outras destruições escondem-se sempre no anonimato, como diz acertadamente o nosso povo: “o mal feito nunca tem dono”.
Não se sabe ao certo se essas pequenas casas de um só piso serviram para guardar aprestos das armações do Porto de Mós, ou se foram apenas arrecadações de munições da carreira de tiro. A segunda hipótese é menos viável dado o isolamento do local e os cuidados que esse tipo de material requer. Talvez tivesse tal serventia apenas como apoio nas alturas em que se praticavam os exercícios de tiro.
Toda essa estrutura edificada fazia parte da memória colectiva e daí a sua destruição constituir acto condenável.
A zona do Porto de Mós sempre se mostrou rica, mormente pelos contrastes que apresenta: falésia, arribas, praias de areia, seixos rolados, grande quantidade de fósseis, laredos...
As arribas vão desde o sítio do alvo da dita carreira de tiro até à Rocha Negra, numa extensão de aproximadamente dois mil metros. Ao longo desse percurso pode-se observar nos cortes das arribas, as diferentes camadas geológicas estratificadas, como páginas de um livro que contam a história da formação da Terra. Tudo é grandioso. Dos 109 m de altura máxima o morro desce a pique vários metros e depois segue em declive para Sul, até ao mar. No cimo, o planalto da Atalaia que também foi conhecido por planalto de Santo Estêvão, nome que adveio de uma ermida que existiu na vertente Oeste, debruçada sobre a povoação da Luz e hoje completamente arruinada e de culto olvidado.
Quem caminhar na baixa-mar pelo laredo até à Rocha Negra ficará extasiado com a grande quantidade de aves que nesses rochedos nidificam. Os pombos bravos ou pombos da rocha, que aí abundavam, têm sido dizimados pelos caçadores. A todo aquele afloramento rochoso acodem inúmeras aves, durante todo o ano, por ali encontrarem água para matar a sede. São minúsculas fontes que brotam da encosta e suportam caniços que verdejam junto delas. Em anos de chuvas abundantes formam-se pequenas cascatas que correm para o mar.
Nos interstícios das pedras afloram uns veios de argila de cor cinzento azulado, muito procurada para uso terapêutico e de propriedades afamadas que levam a abundante colheita e a aplicação sobre a pele, na busca de cura para os mais variados achaques. E nisto se acham naturais da região mas também turistas e outros visitantes. As propriedades medicinais das argilas de há muito se conhecem e já em 1896 o abade Sebastian Kneipp cita as virtudes da sua aplicação no seu livro “A cura pela água”.
No laredo da praia do Porto de Mós algumas lontras fazem, ainda, criação. Animais esquivos, escondem-se mal sentem a aproximação humana.
Lagos tem topónimos interessantes que carregam consigo histórias ricas e integram a própria História do concelho. Tal é o caso do Cerro das Mós e do Porto de Mós. No Cerro das Mós era feita a extracção de pedras para mós, quer de azenhas quer de moinhos de vento, trabalho iniciado e concluído no local. Na praia do Porto de Mós, pela mesma razão, todavia as mós aí produzidas eram mais pequenas e destinavam-se à moenda de cereais em uso doméstico.
(…)
Os organismos com responsabilidades ambientais estão, inexplicavelmente, alheios a estas questões. Para estes, e outros atentados no género, terá que haver uma voz troante que diga NÃO!
A praia do Porto de Mós deverá continuar a ser um lugar de lazer de eleição, integrada numa área de trabalho e com um ambiente que proporcione a meditação, o estudo ou a simples contemplação das suas belezas naturais.


©JoséCarlosVasques/CEMAL (
Excerto do texto, com a devida vénia:)