Projecto de A. M. Cristiano Cerol     

  06. Abril.2006, pelas 18.00 horas

Colaboração de Nídio Duarte e José Carlos Vasques     

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Zona Ribeirinha de Lagos

continua a dividir opiniões

 

No seu Encontro de 5ª Feira, integrado no ciclo “Lagos, Pensamento e Acção”, o Grupo dos Amigos de Lagos partiu de “A Ribeira e o Sino da Lota” e de um outro documento, ambos elaborados por José Carlos Vasques e deteve-se na análise de “A Frente Ribeirinha de Lagos, as dúvidas e reacções”, nota de reportagem de Nídio Duarte publicada em meados de 2005, aquando de uma reunião integrada na divulgação do programa POLIS.

Neste Encontro, que se debruçou sobre recordações do passado e perspectivas futuras de “uma das zonas mais visitadas pelos turistas” e decorreu, como habitualmente, na Biblioteca Municipal Dr. Júlio Dantas, os presentes voltaram a tecer considerações pró e contra o que sabem sobre o projecto do POLIS, tendo, a dada altura, deixado transparecer um certo sentimento de que “a cidade se preocupa muito com as coisas grandes e deixa por fazer as que são pequenas”.

Entre várias ideias para a Zona Ribeirinha de Lagos, umas novas, outras simplesmente recordadas, foi ventilada a hipótese de construção de uma grande área de estacionamento sob parte do parque de campismo militar, em alternativa ao parque subterrâneo já anunciado. No ar, ficou uma pergunta a que nenhum dos presentes sabia responder: “a que obra se destina a tubagem dupla que foi agora colocada ao longo da Avenida”?

 

 

Texto de apoio: “A Ribeira e o Sino da Lota”(*)

 

A ZONA RIBEIRINHA

 RECORDAÇÃO DO PASSADO

PERSPECTIVA FUTURA

 

Desse local, poucos, certamente, se recordarão. Onde estava o Sino, o salva-vidas, a taberna do Joaquim Polícia, as fábricas do Santana, do Frederico Delory, do Paolo Cocco e a de São Gerardo, e a taberna da tia Páscoa. Alguns anos antes, tinha sido iniciada a construção de um cais que nunca foi concluído denominado Cais dos Pescadores, no mesmo local onde se encontra hoje o paredão que protege a doca de recreio.

Este pequeno abrigo, à falta de melhor, servia, bastando, para as várias necessidades dessa zona ribeirinha. (…) Várias estruturas de importância capital foram iniciadas para logo, em seguida, caírem no marasmo e no abandono sem conhecerem a sua conclusão: o tal Cais dos Pescadores; o Porto de Abrigo (interior), cuja primeira pedra foi lançada pelo rei D. Carlos I (por não haver mais nenhum com esse nome antes dele); e o projectado grande porto, da autoria do Eng. Abecassis.

(…) - A Avenida dos Descobrimentos, por força das Comemorações Henriquinas, concluída apressadamente, teve de ser complementada, mais tarde, com outra obra, do outro lado, dado que o mar a podia destruir. Pois em dias de tempestade e de grandes marés a água invadia a parte baixa da cidade. Com a Avenida da Guiné, construída nos anos da Segunda Guerra Mundial, depois desaparecida, tinha acontecido o mesmo. Mas a lição não serviu de emenda (anos de 1931 a 1942).

Outro projecto houve, para a Avenida dos Descobrimentos, que foi posto de parte por não passar junto à cidade e por pedido ou imposição do comércio lacobrigense, que dizia colidir com os seus interesses. Esse projecto, dizia-se, respeitava a relação milenar da cidade com o mar, não a descaracterizando portanto.

Ainda um outro projecto, esse sim, feito com pés e cabeça e ensaiado no LNEC, posicionava o verdadeiro porto no outro lado do rio. No local, segundo se dizia, da antiga barra. Zona profunda, sem rocha, de fácil dragagem como se viria a verificar com a actual Doca Pesca. No entanto, Salazar rejeitou o projecto por o considerar muito dispendioso, quando afinal, a avenida foi muito mais dispendiosa.

Não confundamos porto com avenida, esta é uma rodovia. A avenida, panoramicamente agradável, é uma zona razoável de lazer, embora, com alguma frequência, sujeita à nortada. Em dias de Levante e noites calmas é um lugar aprazível.

A construção da doca de pesca deve-se ao novo ambiente político proporcionado pela Revolução de 1974, assim como o refundamento do canal de acesso que, necessariamente, tinha de ser executado. Lamentavelmente essa obra não foi alargada ao exterior dos molhes, evitando-se assim o encapelamento das vagas à entrada do canal. (…)

(*) EXCERTOS DE UM DOCUMENTO DE JOSÉ CARLOS VASQUES / CEMAL, PUBLICADO NO CANALLAGOS, EM 13/4/2005 (com a devida vénia)