Título: O Deus das Moscas *

Autor: William Golding

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Notas de Leitura 

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Ainda que William Golding não seja considerado um escritor de “romances de guerra” é, no entanto indiscutível a presença bélica como “pano de fundo” em muitas das suas obras, sendo O Deus das Moscas uma delas. Na verdade, a guerra levou Golding a pôr em causa uma visão optimista, científica e racionalista do mundo que lhe fora transmitida pelo seu pai.

Deste modo, podemos considerar O Deus das Moscas um romance distópico (anti-utópico) devido ao seu pessimismo inerente. Pois, apesar da eleição de Rafael como líder e das frequentes reuniões simbolicamente anunciadas pelo chamamento autoritário do búzio, as várias tentativas de recrear a “civilização” dissipam-se rapidamente.

Jack, o rapaz responsável pela caça, logo assume o domínio dos outros rapazes, ao tirar proveito dos receios e superstições destes em relação à “fera”. Jack acaba mesmo por deixar o grupo de Rafael e levar consigo a maioria dos outros rapazes. Quando Simão, um jovem visionário, chega  à conclusão que a “fera” se trata afinal de um paraquedista morto e tenta alertar o resto do grupo, a “tribo” de Jack mata-o numa espécie de cerimónia ritualística.

Por sua vez o Bucha, o primeiro das muitas figuras racionalistas de Golding, é assassinado por Rogério, o tenente de Jack, enquanto segurava pateticamente o búzio que representa a sua crença na civilização levada até às últimas consequências.

O Deus das Moscas é normalmente interpretado como o comentário de Golding sobre a maldade humana. Reconhecido pela sua “intertextualidade” (isto é, as várias relações que um texto apresenta em relação a um outro), O Deus das Moscas é uma “re-escrita” crítica da visão imperialista vitoriana d’ A Ilha de Coral de R. M. Ballantyne (1858).

Deste modo, o pessimismo de Golding substitui o optimismo imperialista vitoriano de Ballantyne. Em A Ilha de Coral o mal encontra-se separado dos rapazes ingleses, residindo nos selvagens e canibais. Em O Deus das Moscas um dos rapzes afirma: “No fim das contas, nós não somos selvagens. Somos ingleses e os ingleses são os melhores em tudo.” Contudo, Golding, ao longo do romance, leva-nos a crer que o mal é provavelmente inerente à humanidade - incluindo os ingleses - e que o mal que vem de fora é uma projecção do mal que está dentro de cada um de nós.

As personagens de Golding servem para representar os diferentes pontos de vista referentes à natureza do mal. Para o Bucha o mal não existe, apenas pessoas que se comportam de um modo irracional; para Jack o mal reside fora da humanidade e tem que ser mitigado através de sacrifícios; para Simão, o mal expressa-se através do Deus das Moscas – encontra-se na própria humanidade.

Golding não pretende neste romance examinar a natureza idiossincrática dos rapazes em geral, mas sim a essência da própria humanidade. A ilha transforma-se num microcosmos do mundo dos adultos que se encontra em processo (contínuo) de auto-destruição.

 Simbolismo em O Deus das Moscas

Objectos/Personagens  –  representam:

Bucha (e os óculos)  – Clareza de pensamento, inteligência. Ordem social.

Rafael (o búzio) Democracia, ordem

Simão Pureza, bondade, “Imagem de Cristo"

Rogério Maldade, Satanás

Jack Selvagem, anarquia

A Ilha Um microcosmos que representa o mundo

A "Cicatriz" Destruição do Homem, forças destruidoras

A Fera O mal que reside em todos nós, o lado negro da natureza humana.

O Deus das Moscas O Diabo, grande perigo ou maldade

Temas

Tema Principal – Ideia que sem as regras da sociedade a anarquia e o lado selvagem do ser humano prevalece. É a vida em sociedade que nos faz distinguir o bom do mau. Sem os valores civilizacionais perde-se o sentido da moral.

Temas Secundários:                    

  • O ser humano irá sempre abusar do poder quando este não é ganho.
  • Se lhe fôr possível, o ser humano é capaz de “sacrificar” o próximo para manter a sua própria segurança.
  • O lado selvagem de cada um de nós acaba sempre por vir ao de cima, se a situação assim o permitir.
  • Mais vale avaliar as consequências de uma decisão antes de a tomar do que descobri-las depois.
  • O medo do desconhecido pode ser uma força poderosa que pode levar ao auto-conhecimento ou a um sentimento de histeria.

Cristina Collier

 

 

 

     * Lido e comentado no Encontro de 2007.07.17               

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